Pedro Figueiredo, Guarda / Portugal
Sobre a exposição no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz:
A exposição de escultura de Pedro Figueiredo ‘transbordou’ da Sala Zé Penicheiro, no Centro de Artes e Espectáculos (CAE), e encheu de vida o seu jardim interior e os corredores que o ladeiam. A mostra terminou no último domingo, mas a arte do escultor de 32 anos, natural da Guarda, deverá em breve regressar ao CAE, materializada numa peça que o artista se encontra já a conceber, a pedido da administração daquele espaço. Em conversa com O Figueirense, Pedro Figueiredo falou das suas criações, e foi esculpindo a sua visão da arte.
Nasceu em 1974, na cidade da Guarda. Academicamente, o seu percurso na arte começou com o curso profissional de Cerâmica na Escola Artística de Coimbra (ARCA), instituição onde viria a licenciar-se em Escultura e onde, actualmente, frequenta o mestrado de Comunicação Estética, ao mesmo tempo que aí lecciona a disciplina de Desenho e é assistente na de Escultura. Exposições, entre colectivas e individuais, já fez dezenas. Na do CAE, sublinha, foi “muito bem tratado”. As peças menores, na Sala Zé Penicheiro, revelam a sua visão da arte, que se amplia nas esculturas maiores: “Arte e natureza não se identificam, a arte dá liberdade, não tem as limitações físicas da natureza”, afirma.
Pés grandes
Formas que se alongam elegantes e se ‘prendem’ ao chão, ao real, em pés ou mãos de enormes dimensões. É esta a ‘imagem’ de marca de Pedro Figueiredo. Seduzem-no também os rostos. Que, realça, não são os de ninguém em particular, mas o de conceitos, sentimentos, emoções. Simplificar é a palavra de ordem, ou não fosse esta exposição – originalmente criada para o Teatro Municipal da Guarda, baptizada de “Geração em Linha”. Assim, linhas simples, peças que representam seres não humanos, não-animais, porque são arte e é como tal que o escultor pretende que as suas obras ‘falem’ com o público. Admirador de Jacometti e Rui Chaves, entre outros, admite também gostar de escrever, ainda que na maioria das vezes as suas letras acabem ‘na gaveta’. Algumas das suas obras têm, aliás, o mesmo destino. “A arte é feita para dar prazer, é outra forma de nos alimentarmos, é quase uma promessa de felicidade”, explica. Por isso, quando a sua criação não cumpre a promessa do criador não hesita em guardá-la para si. Para sempre ou para mais tarde porque, considera, “uma obra de arte só está acabada quando fala connosco, e pode estar acabada para uma pessoa e não estar para outra”. Assim, Pedro Figueiredo não teme errar, não desconhece o erro, antes o capitaliza para o constante processo da (sua) evolução artística. "A obra perfeita é inatingível", afirma. E, assume, não pretende atingi-la, porque depois viria o vazio. Dedica-se a cada obra, desde a concepção mental à construção material, cerca de um mês, ou mais. Nem tudo é inteligível, defende. O subconsciente também tem o seu papel na criação, e o próprio material fala, reivindica, sugere caminhos. O escultor escuta-os, e segue-os. Depois aguarda a crítica, que não tem o condão de o incomodar, ao contrário do não-conhecimento. “Se alguém me diz ‘vi, mas não gostei’ não me incomodo. Mas se alguém esteve junto à escultura e não deu por ela, é porque não cumpriu o seu papel, não logrou tocar. Ver é tocar ao longe”, conclui.
O desencanto das explicações
O que o incomoda, também é a tentativa de identificar a arte com o real. “Peço que não o façam”, revela Pedro Figueiredo. Irritam-no os comentários de que “os cavalos não podem estar naquela posição”, de que o corpo humano não tem aquelas proporções. “Aqueles não são os cavalos da natureza, os seres humanos da natureza… são os meus cavalos, as minhas figuras humanas”, desabafa. Por tudo is-to opta por limitar ao mínimo as explicações sobre as peças, dando-lhes títulos ambíguos. “Os títulos são importantes, não devem iludir as pessoas. Mas demasiadas explicações podem criar desencanto no público. Alguém olha para o meu cavalo e vê nele uma girafa? Pois bem, é a sua girafa”, sustenta. E o que é uma boa escultura? "É a que perdura no tempo, a que é interessante hoje e que continuará a sê-lo daqui a um século. É o contrário da moda, que nos faz olhar para uma fotografia dos anos 80 e pensar ‘mas como é que eu pude vestir isto?" Uma boa escultura é intemporal, avança no tempo mas o tempo não passa por ela e nem a arte, que está sempre a mudar, afecta a percepção que temos da sua beleza”, conclui.
Andreia Gouveia, O Figueirense
A exposição de escultura de Pedro Figueiredo ‘transbordou’ da Sala Zé Penicheiro, no Centro de Artes e Espectáculos (CAE), e encheu de vida o seu jardim interior e os corredores que o ladeiam. A mostra terminou no último domingo, mas a arte do escultor de 32 anos, natural da Guarda, deverá em breve regressar ao CAE, materializada numa peça que o artista se encontra já a conceber, a pedido da administração daquele espaço. Em conversa com O Figueirense, Pedro Figueiredo falou das suas criações, e foi esculpindo a sua visão da arte.
Nasceu em 1974, na cidade da Guarda. Academicamente, o seu percurso na arte começou com o curso profissional de Cerâmica na Escola Artística de Coimbra (ARCA), instituição onde viria a licenciar-se em Escultura e onde, actualmente, frequenta o mestrado de Comunicação Estética, ao mesmo tempo que aí lecciona a disciplina de Desenho e é assistente na de Escultura. Exposições, entre colectivas e individuais, já fez dezenas. Na do CAE, sublinha, foi “muito bem tratado”. As peças menores, na Sala Zé Penicheiro, revelam a sua visão da arte, que se amplia nas esculturas maiores: “Arte e natureza não se identificam, a arte dá liberdade, não tem as limitações físicas da natureza”, afirma.
Pés grandes
Formas que se alongam elegantes e se ‘prendem’ ao chão, ao real, em pés ou mãos de enormes dimensões. É esta a ‘imagem’ de marca de Pedro Figueiredo. Seduzem-no também os rostos. Que, realça, não são os de ninguém em particular, mas o de conceitos, sentimentos, emoções. Simplificar é a palavra de ordem, ou não fosse esta exposição – originalmente criada para o Teatro Municipal da Guarda, baptizada de “Geração em Linha”. Assim, linhas simples, peças que representam seres não humanos, não-animais, porque são arte e é como tal que o escultor pretende que as suas obras ‘falem’ com o público. Admirador de Jacometti e Rui Chaves, entre outros, admite também gostar de escrever, ainda que na maioria das vezes as suas letras acabem ‘na gaveta’. Algumas das suas obras têm, aliás, o mesmo destino. “A arte é feita para dar prazer, é outra forma de nos alimentarmos, é quase uma promessa de felicidade”, explica. Por isso, quando a sua criação não cumpre a promessa do criador não hesita em guardá-la para si. Para sempre ou para mais tarde porque, considera, “uma obra de arte só está acabada quando fala connosco, e pode estar acabada para uma pessoa e não estar para outra”. Assim, Pedro Figueiredo não teme errar, não desconhece o erro, antes o capitaliza para o constante processo da (sua) evolução artística. "A obra perfeita é inatingível", afirma. E, assume, não pretende atingi-la, porque depois viria o vazio. Dedica-se a cada obra, desde a concepção mental à construção material, cerca de um mês, ou mais. Nem tudo é inteligível, defende. O subconsciente também tem o seu papel na criação, e o próprio material fala, reivindica, sugere caminhos. O escultor escuta-os, e segue-os. Depois aguarda a crítica, que não tem o condão de o incomodar, ao contrário do não-conhecimento. “Se alguém me diz ‘vi, mas não gostei’ não me incomodo. Mas se alguém esteve junto à escultura e não deu por ela, é porque não cumpriu o seu papel, não logrou tocar. Ver é tocar ao longe”, conclui.
O desencanto das explicações
O que o incomoda, também é a tentativa de identificar a arte com o real. “Peço que não o façam”, revela Pedro Figueiredo. Irritam-no os comentários de que “os cavalos não podem estar naquela posição”, de que o corpo humano não tem aquelas proporções. “Aqueles não são os cavalos da natureza, os seres humanos da natureza… são os meus cavalos, as minhas figuras humanas”, desabafa. Por tudo is-to opta por limitar ao mínimo as explicações sobre as peças, dando-lhes títulos ambíguos. “Os títulos são importantes, não devem iludir as pessoas. Mas demasiadas explicações podem criar desencanto no público. Alguém olha para o meu cavalo e vê nele uma girafa? Pois bem, é a sua girafa”, sustenta. E o que é uma boa escultura? "É a que perdura no tempo, a que é interessante hoje e que continuará a sê-lo daqui a um século. É o contrário da moda, que nos faz olhar para uma fotografia dos anos 80 e pensar ‘mas como é que eu pude vestir isto?" Uma boa escultura é intemporal, avança no tempo mas o tempo não passa por ela e nem a arte, que está sempre a mudar, afecta a percepção que temos da sua beleza”, conclui.
Andreia Gouveia, O Figueirense