Helena Almeida, Lisboa / Portugal
- arte performativa contemporânea -
Helena Almeida nasceu em Lisboa em 1934. Tirou o curso de Pintura da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. A sua obra, muito diversificada (pintura, desenho, instalação, escultura e gravura), tem um denominador comum: a fotografia.
Pela primeira vez, em 1967, expõe individualmente na Galeria Buchholz, onde apresenta uma pintura abstracta geométrica, usando o azul e o laranja e interrogando a natureza e a função dos suportes e da moldura (colecção CAMJAP). Já nesta fase se encontram os primeiros indícios de uma saída física da tela, protagonizada, neste caso, pelo deslize da moldura para fora do lugar da pintura.
Nos anos seguintes, surgem as instalações feitas com utensílios de uso doméstico (flores de plástico, tule...) e os desenhos com colagem de fio de crina. Estes últimos fazem coexistir o plano e o volume numa delicada mas poderosa submissão à fisicalidade da linha.
Numa performance documentada em vídeo (colecção CAM), a palavra “ouve-me” é desenhada sobre um papel no espaço da boca, que o sorve por trás, e remete para a série de fotografias (1979) em que, como um fio, o desenho da palavra lhe “cose” os lábios. Em 1969, e pela primeira vez, faz-se fotografar pelo seu marido (o escultor e arquitecto Artur Rosa), de corpo inteiro, agarrando uma tela rosa sobre o peito.
Na década de 70, com as séries Pinturas e Desenhos Habitados, a artista revela uma profunda meditação sobre os efeitos decorrentes de “tentar abrir um espaço custe o que custar”, como na obra Tela Habitada (1976): representa e utiliza o seu próprio corpo numa sequência de imagens em que simula romper a tela e, ainda que aparentemente o consiga, na penúltima fotografia, percebe-se que o seu objectivo não é alcançado, sugerindo depois o recomeço de modo cíclico, infindável. É ainda a figura do rasgão que organiza a sua “entrada” no espaço da tela ou do papel, na obra Corte Secreto (1981), também integrada na colecção do CAM. O questionamento e a desconstrução do espaço da obra e daquele que o envolve, do lugar do artista dentro e fora deles ou em limiares de transição entre eles, constituem os principais enquadramentos conceptuais da obra.Em 1980, Helena Almeida descobre o negro. Da cumplicidade desta cor com a fotografia surgem grandes telas fotossensibilizadas.
Em 1987, destacaram-se os Frisos, conjunto de 262 fotografias sobre papel que a artista expôs no CAMJAP. Prossegue entretanto com os trabalhos de instalação e fotografia, mantendo a utilização da sua própria imagem como uma constante da obra.
Numa das fotografias da série Seduzir, a cor do sangue é a cor da pintura na planta de um dos pés deixada a descoberto por um sapato caído. Se a mão levanta um dos lados da saia num gesto coquette e se o salto alto dos sapatos o reforça, dois aspectos interrompem ou cerceiam esse propósito coreográfico: o corpo é um vulto negro, mais ou menos informe e sem cabeça, de forma a concentrar o nosso olhar na pele das pernas e dos pés, e nessa mancha inesperada que tinge de vermelho uma zona escondida do corpo, dando a pensar o que nela pode ser violência dissimulada, como em alguns jogos de sedução. Por outro lado, se é a mão que tradicionalmente realiza a pintura, é o pé que a assume, neste trabalho, como agente passivo (suporte da pincelada), mas também activo do movimento, da surpresa, da cor e da tinta na fotografia a preto e branco e da perturbação metafórica. Engolir, secretar, integrar, esconder, escorrer, agir, habitar, localizar a pintura, a partir do corpo, nele e com ele – eis o programa de trabalho de uma vida.
Das inúmeras exposições feitas em Portugal e no estrangeiro, destacam-se a exposição na Fundação de Serralves (Porto, 1995), no Centro Galego de Arte Contemporânea (Santiago de Compostela, 2000) e, recentemente, na Galerie im Taxispalais (Innsbrück, na Áustria, 2003). Pés no Chão, Cabeça no Céu é o nome da importante antológica realizada no Centro Cultural de Belém em Março de 2004.
Maria Almeida Lima
CAM -Centro de Arte Moderna